Se eu sentia falta? É... era até pra eu sentir, mas no momento eu não sentia simplesmente nada.

"Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada."


Não fora uma morte qualquer, daquelas que se vai morrendo aos poucos, não. Fora enterrado vivo, jovem, forte, sadio...e o que não lhe faltava era vontade de viver.
Enterrei-o como se não o quisesse mais, como se seus gritos não me massacrassem a ponto de eu desejar morrer também.
Reviver aquela cena era tocar em uma ferida que eu não imaginava que um dia poderia cicatrizar... Mais como uma surpresa reservada pelo tempo a ferida se fechou... não conseguia mais sentir dor alguma, e nem culpa.
Será que matara de vez o amor residente em mim? Resolvi voltar e certificar. Era estranho, já não sentia mais meu coração pulsar, meu corpo reagir. Era como voltar ao lar sem reconhecer quaisquer mobílias ou raízes ali deixadas. Aquele túmulo agora estava silenciado, quieto, era bem claro que ele estava completamente morto. 
Fiquei ali pensando em que momento ele se rendera, em qual ponto que por fim ele deixara a morte vir buscá-lo, e quais outros tantos sentimentos ele levara com ele ao morrer.
Tive uma leve impressão que depois de jogá-lo fora meu coração exercia apenas suas funções fisiológicas, não batia mais, não por emoção. Ainda que a lembrança de o sentir vivo dentro de mim me assustasse um pouco e que tal fatalidade tivesse matado uma parte de mim também; senti uma paz inegociável ao ver que tudo aquilo havia sido levado embora, por persistência das circunstâncias, e por um empurrãzinho do tempo.
Não doía mais, não fazia mal e nem bem. Deixou algumas coisas pra trás, mas se foi. Morrera de vez...

Se eu sentia falta? É... era até pra eu sentir, mas no momento eu não sentia simplesmente nada.

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