"Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?"
Caio F Abreu
Já era madrugada de
uma noite fria, tínhamos uma peça quase pronta pra estréia, abri a porta do meu
apartamento e sorri lembrando o quanto o texto ridicularizava as atitudes
humanas, uma critica exagerada às nossas tantas ignorâncias. Continuei
sorrindo, mesmo sabendo que havia mais verdade do que exagero naquelas piadas. Acendi meu cigarro, tomei meu café, e te vi dentre as críticas do autor, parei
de sorrir ao me perguntar por que não te enxergava mais nas coisas bonitas.
Apertei o cigarro três vezes contra o cinzeiro, mas este não apagou. Pensei que
talvez fosse por isso que havia esquecido um pouco do que fomos. Tantas chances
que a vida te deu para apagar o grotesco, mas você insistira em deixar a
estupidez acesa. Larguei o cigarro aceso e tomei meu café. Vi que no fundo
larguei você também, aceso de conceitos que não me pertencem, amargos como o
gosto que ficara em minha boca ao final do cigarro. A gente não devia
transformar amor em ódio, amor só devia trazer amor, e fé e confiança não
deveriam remeter a tristeza que eu tenho sentido por você. Nosso caso
tornara-se complicado porque alguém haveria de ceder, mas nem um tiro no meu ou
no seu coração resolveriam nossas contradições. Chorei porque na peça, o velho
ignorante ficara só, de tanto lutar a favor de seu coração e suas idéias
ultrapassadas. Não queria te deixar só depois de tudo fomos. Foi então que ao
deitar, notei que o cigarro apagou, mesmo tendo insistido naquela brasa fraca
que ainda restava. Fechei os olhos e pedi que você também permitisse que as intolerâncias se apagassem, que o caminho se revertesse e pra que eu também apagasse aquelas
brasas que impediam de ver que nosso amor já foi maior que tudo isso.
aaah menina esquisita, mandou bem demais da conta, q isso!
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